Jornada da Via Campesina mobiliza 10 estados contra agrotóxicos

A Jornada de Lutas das Mulheres da Via Campesina mobilizou 10 estados, na semana de 1 a 4 de março. O objetivo é denunciar os impactos para a saúde humana e para o ambiente do uso abusivo dos agrotóxicos e apontar a responsabilidade do modelo de produção do agronegócio.

Em conjunto com trabalhadoras urbanas, as camponesas denunciam que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, inclusive de agentes contaminantes totalmente nocivos a saúde humana, animal e vegetal que já foram proibidos em outros países.

O Brasil utilizou mais de 1 bilhão de litros de agrotóxicos na safra do ano passado, de acordo com dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Agrícola, ocupando o primeiro lugar na lista de países consumidores de agrotóxicos desde 2009.

“A produção em grande escala com venenos traz consequência para a vida das pessoas, seja no campo, seja na cidade. Temos necessidade de consolidar esse debate na cidade, que é um debate para a humanidade”, afirma Marisa de Fátima da Luz, assentada na região do Pontal do Paranapanema (SP), e integrante da Coordenação Nacional do MST.

Abaixo, confira o que aconteceu nos estados desde o começo da semana:

São Paulo

Desde o dia 25/2, várias mulheres do MST, realizam ato de denúncia e reivindicação na frente da Prefeitura de Limeira, próximo da Campinas. No último dia 24/2, cerca de 70 mulheres do MST e da Via Campesina realizaram a ocupação da prefeitura do município de Apiaí, localizado na região Sudoeste de São Paulo para reivindicar o acesso aos direitos básicos como: saúde, educação, moradia, transporte e saneamento básico, que vêm sendo negado pelo município às famílias acampadas.

Pela manhã, no litoral de São Paulo, as mulheres camponesas e outros movimentos sociais fecharam parte da Rodovia Cônego Domênico Rangoni,  também conhecida como Piaçaguera-Guarujá, que dá acesso ao Pólo Industrial de Cubatão.

Nessa região, encontram-se grandes empresas produtoras de veneno, como Bunge, Vale Fertilizantes, Rhodia, no total de 52 empresas. Dessas, cerca de 80% são produtoras de venenos. O estado de São Paulo está entre os três primeiros estados produtores de agrotóxicos no Brasil.

Minas Gerais

No dia 03/03, no Triângulo Mineiro, interior do estado, 400 mulheres da Via Campesina e o Fórum Regional por Reforma Agrária ocuparam a BR 050, no km 121, entre Uberlândia e Uberaba, para denunciar que a utilização de aviões de pequeno porte para pulverização de agrotóxicos pela empresa Saci polui o solo e a água da região.

Em Teófilo Otoni, 300 mulheres camponesas dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce realizaram uma marcha do centro da cidade em direção ao Fórum da Comarca, para denunciar os casos de violência contra as mulheres e a violência causada pela concentração de terras na região.

No dia 26/02, o Fórum Regional por Reforma Agrária do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba ocupou a sede da Fazenda Inhumas, em Uberaba. A ação envolveu 200 famílias. O evento marca as atividades do 8 de março e discutiu com cerca de 500 mulheres a violência causada pelo agronegócio, as consequências do uso de agrotóxicos e as alternativas para transformação do modelo discriminatório estabelecido no campo e na cidade.

Rio de Janeiro

Dia 02/03, cerca de 300 mulheres trabalhadoras do campo e da cidade ocuparam a sede do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no centro da capital carioca. O objetivo da mobilização é denunciar os altos investimentos e empréstimos do BNDES à indústria dos agrotóxicos e às transnacionais da agricultura, que compram e lançam os venenos agrícolas nas lavouras brasileiras.

Ceará

Mais de 1.000 mulheres dos movimentos sociais do Ceará, como o MST, o Movimento dos Conselhos Populares e a Central dos Movimentos Populares, fizeram duas marchas para denunciar os impactos negativos para a saúde humana e para o ambiente com uso excessivo de agrotóxicos no Brasil e os impacto, com início na quarta-feira, 2 de março. Em Fortaleza, mais de 600 mulheres marcharam até o Palácio da Abolição, do governo do Estado, para denunciar a política de isenção fiscal que beneficia as indústrias de venenos e amplia o consumo de agrotóxicos em todo o estado. Em Santa Quitéria, 500 mulheres protestam contra a instalação da Mina de Urânio e Fosfato de Itatiaia.

Bahia

Cerca de 500 trabalhadoras rurais e urbanas realizaram uma caminhada em Vitória da Conquista, em frente à Prefeitura e aos Bancos do Nordeste e Brasil para a reivindicação da liberação do Pronaf Mulher, renegociação das dívidas das assentadas e a construção de creches nos assentamentos. Em Petrolina, mais de 500 camponesas ocuparam a sede do INSS junto com Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), Comissão Pastoral da Terra (CPT), IRPA, Quilombolas e Pescadoras, para cobrar a implementação dos processos de aposentadoria das trabalhadoras rurais, auxílio doença e o salário maternidade.

No dia 28/2, 1500 mulheres ocuparam a fazenda Cedro que pertence à multinacional Veracel, no município de Eunápolis. Na terça-feira (1/3), as camponesas trancaram a BR 101 por duas horas. As trabalhadoras denunciam a ação do agronegócio no extremo sul da Bahia, com a produção da monocultura de eucaliptos praticada pela Veracel na região de maneira irregular, pois ocupa terras devolutas.  Encontros para discutir a agricultura camponesa e sementes crioulas também acontecem nos dias 05 a 10 de março, envolvendo os municípios de Pindaí, Caetité, Riacho do Santana, Rio do Antônio, Caculé, Brumado.

Pernambuco

Cerca de 800 trabalhadoras rurais ligadas ao MST, ao Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), ao Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) e à Comissão Pastoral da Terra (CPT) marcharam na manhã desta terça-feira (1/3) de Petrolina a Juazeiro, trancando a ponte que liga os dois municípios, denunciando a inoperância do Incra da região. No dia 28, mais 500 mulheres ocuparam o Incra na cidade de Recife como forma de chamar a atenção para a Reforma Agrária. Depois do protesto, as mulheres saíram do prédio no mesmo dia.

 

Santa Catarina

Cerca de 500 mulheres da Via Campesina se reuniram na quarta-feira (02/03) em Curitibanos (SC), no parque de exposição Pouso dos Tropeiros, com o lema, “Contra o agronegócio, em defesa da soberania popular”. O encontro iniciou com uma mística relembrando o porquê do dia 8 de março ser uma data de luta das mulheres trabalhadoras. No momento em que acontecia o encontro, uma comissão estava reunida com o governo do estado para reivindicar a pauta.

Rio Grande do Sul

Cerca de 1.000 mulheres da Via Campesina, Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD), Levante da Juventude e Intersindical protestaram, no dia 1/3, em frente ao Palácio da Justiça, na Praça da Matriz em Porto Alegre. Elas saíram em marcha do Mercado Público de Porto Alegre até o local. Integrantes vestidas de preto estiveram paradas em frente ao prédio, em silêncio, para lembrar que as mulheres têm sido silenciadas por várias formas de violência.

Na mesma cidade, cerca de 1.000 mulheres ocuparam o pátio da empresa Braskem, do grupo Odebrecht, no Pólo Petroquímico de Triunfo, região metropolitana de Porto Alegre. A manifestação tem o objetivo de denunciar que o plástico verde, produzido à base de cana-de-açúcar, é tão nocivo e poluidor quanto o plástico fabricado à base de petróleo. Já em Passo Fundo (RS), 500 mulheres realizaram uma manifestação pública no centro, com atividades de formação no Seminário Nossa Senhora Aparecida.

Sergipe

Cerca de 1.000 trabalhadoras rurais do estado montaram acampamento em frente a Praça da Bandeira de Aracaju. De 1 a 3 de março, elas participaram de atividades que denunciam os agrotóxicos, o agronegócio, a criminalização dos movimentos sociais e a violência da mulher.

 

Espírito Santo

Uma marcha de mulheres do campo e da cidade partiu na terça-feira, 1/3, do município da Serra, promovendo uma série de atividades da Jornada de Lutas das Mulheres. No primeiro dia, a marcha caminhou aproximadamente 15 km até Carapina, com muita animação e apoio popular durante o trajeto. Depois, a marcha foi para a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), onde aconteceram debates sobre os impactos do agronegócio na vida das mulheres do campo e da cidade, com destaque para a questão dos agrotóxicos, do novo Código Florestal e da saúde alternativa.